21 fevereiro, 2014

Bobi

Olho para a cama e já não o vejo lá. Chega a noite e já não tenho o impulso de ir à rua. Na cozinha já não espero que me peça um bocadinho do que como. No meu quarto vejo-o nas fotos penduradas na parede; vejo e sigo caminho. Por vezes penso que já não sinto falta, que já estou bem com isso, mas é à noite que o vejo. À noite, nos meus sonhos, ele aparece e eu choro; choro por saber que já cá não está comigo. Procuro-o desalmadamente. Corro nos corredores, grito, empurro, procuro-o. Quando o encontro, está ele parado a olhar e eu agarro-o dizendo o seu nome e choro... choro... choro... abraço-o e choro... Acordo. Acordo e vivo a minha vida como se nada fosse, mas são nos momentos sozinha que me lembro e sinto a sua falta. Tudo me cai.
Foram quase 17 anos na minha vida todos os dias.
Uma rotina. Uma boa rotina. Ainda me lembro de cada bocadinho seu; do latir, do olhar, do barulho das patinhas no chão, toque do seu pêlo, cheiro. Lembro-me de cada momento da nossa rotina. Das idas à rua, à janela a apanhar sol e a sentir o vento na cara, na minha cama a dormir e a rosnar porque não queria ser incomodado. Os beijinhos na barriguinha, na carinha, as brincadeiras pela casa com a manta, a bola. Brincávamos às escondidas. Ele adorava correr e perseguir a cauda. Juntava todos os tapetes a um canto da casa. Queria colo quando estava frio, mas não dava beijinhos. Tirava-lhe fotos, centenas delas. Nunca foi apreciador, mas aguentava-se.

Chamava-se Bobi e era da minha casa. Foi amado a cada minuto, apesar de todo o dinheiro que fez gastar em arranjos à casa. Foi amado mesmo não sabendo dar a pata, beijinhos ou devolver a bola. Era um cão medricas com uma certa independência. Não era um cão amoroso, mas eu não o resistia.
Era um cão que vivia cá em casa e agora é um cão que permanece no meu coração e invade os meus sonhos.

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