05 dezembro, 2014

Doente

Sinto-me doente... a minha mente sente-se doente e o meu corpo cansado de a suportar.

Quem me conhece sabe que uma das minhas maiores paixões são os animais e diariamente sinto-me doente com o que vejo, sei e imagino. Consigo perceber que existem pessoas más no mundo mas não sou obrigada a aceitar, e por isso sinto-me doente. Conheço a maldade humana, já presenciei a mesma e é uma impotência tão grande não conseguir evitar que façam mal aos animais... Caçadores por divertimento que tiram fotos com animais selvagens mortos; elefantes espancados, cortados, em agonia dezenas de anos só para servirem turistas; macacos bebés espancados, encolhidos de medo enquanto são treinados para se sentarem em cima de mini bicicletas para fazer espectáculos no circo; raposas em gaiolas a serem observadas por quem as quer mortas para vestirem um casaco com o seu pêlo; cães deixados presos na linha do comboio para morrer, enterrados vivos ou deixados ao frio e à fome; animais recém-nascidos atirados ao rio; animais torturados até à morte por divertimento ou por qualquer outra razão inexplicável. Conheço tantos, demasiados casos que me deixam o coração apertado, uma agonia cá dentro, olhos em lágrimas, doente. Doente. Doente. Doente.
Houve o tempo em que os meus olhos, o meu corpo choravam e sentiam-se em desespero pela dor de sentir o sofrimento, medo e solidão daqueles e de outros animais. Lutava comigo própria para ficar bem, imaginava mil e trinta maneiras de fazer sofrer quem os fez sofrer, quem causou a sua morte. Agora... agora já não é assim. Agora a realidade é demasiado grande para chorar e vingar-me. Agora e desde há quase 2 anos que trabalho no bem estar dos cães que foram abandonados. E não tenho outro remédio se não em ser forte e ir semanalmente visitá-los, tratá-los e sempre que é preciso, que é sempre, pedir por eles. Trabalho num local que é a sua última casa e de muitos a primeira. A casa que os acolheu quando não sentiam a última energia para manter os olhos abertos e aguentar o corpo respirar, quando não sentiam um pingo de esperança em viver mais e quando já não sentiam a dor no corpo de tanta dor que os adormecia. Os que lá estão agora são felizes, embora não tão felizes se estivessem numa casa de um bom humano. Mas já sabem o que é amor, o melhor de uma pessoa, mas também sabem o que é dor e o pior de quem deveria proteger os mais fracos e ensinar as futuras gerações a cuidar e olhar por quem precisa e dá a própria vida pedindo em troca apenas um mimo ou um biscoito.

Os animais enchem-me o coração de alegria, amor e conforto e os humanos fazem sentir-me doente. Existem humanos bons, sensíveis, que não ficam indiferentes ao sofrimento de um animal na rua. Humanos que dedicam o seu tempo e dinheiro a cuidar e a tratar os que sofreram nas mãos erradas.
Existem humanos que arriscam as suas vidas para salvar um animal abandonado no meio do trânsito, atirado ao rio ou enfiado dentro dum esgoto. Existem humanos bons e se não existissem não teria esperança na Humanidade; seria a minha morte.


Existem humanos maus; maus para os animais, maus para a sua própria raça. Irei carregar o peso da maldade humana para o resto da minha vida. Os humanos maus e indiferentes não deveriam existir. No entanto penso... se a maldade não existisse, a bondade seria reconhecida?

A realidade é que os animais são o meu paraíso e os humanos o meu inferno.
Eu sinto-me doente e o aconchego só vem de vez em quando.