16 janeiro, 2015

Desconhecido

Ele era desconhecido; desconhecido de cara e manias, vícios e rotinas.
Conhecia-me, desconhecia-o.

Falávamos, não sorria; não sei sorrir sem me olharem nos olhos. Com ele sentia-me sem nada saber, sem nada para dar ou receber. Desconhecia o que o fazia sorrir e chorar, fraquezas e lamúrias. Não tinha valor e não me fazia perder tempo.

Mas ele conhecia-me.

05 dezembro, 2014

Doente

Sinto-me doente... a minha mente sente-se doente e o meu corpo cansado de a suportar.

Quem me conhece sabe que uma das minhas maiores paixões são os animais e diariamente sinto-me doente com o que vejo, sei e imagino. Consigo perceber que existem pessoas más no mundo mas não sou obrigada a aceitar, e por isso sinto-me doente. Conheço a maldade humana, já presenciei a mesma e é uma impotência tão grande não conseguir evitar que façam mal aos animais... Caçadores por divertimento que tiram fotos com animais selvagens mortos; elefantes espancados, cortados, em agonia dezenas de anos só para servirem turistas; macacos bebés espancados, encolhidos de medo enquanto são treinados para se sentarem em cima de mini bicicletas para fazer espectáculos no circo; raposas em gaiolas a serem observadas por quem as quer mortas para vestirem um casaco com o seu pêlo; cães deixados presos na linha do comboio para morrer, enterrados vivos ou deixados ao frio e à fome; animais recém-nascidos atirados ao rio; animais torturados até à morte por divertimento ou por qualquer outra razão inexplicável. Conheço tantos, demasiados casos que me deixam o coração apertado, uma agonia cá dentro, olhos em lágrimas, doente. Doente. Doente. Doente.
Houve o tempo em que os meus olhos, o meu corpo choravam e sentiam-se em desespero pela dor de sentir o sofrimento, medo e solidão daqueles e de outros animais. Lutava comigo própria para ficar bem, imaginava mil e trinta maneiras de fazer sofrer quem os fez sofrer, quem causou a sua morte. Agora... agora já não é assim. Agora a realidade é demasiado grande para chorar e vingar-me. Agora e desde há quase 2 anos que trabalho no bem estar dos cães que foram abandonados. E não tenho outro remédio se não em ser forte e ir semanalmente visitá-los, tratá-los e sempre que é preciso, que é sempre, pedir por eles. Trabalho num local que é a sua última casa e de muitos a primeira. A casa que os acolheu quando não sentiam a última energia para manter os olhos abertos e aguentar o corpo respirar, quando não sentiam um pingo de esperança em viver mais e quando já não sentiam a dor no corpo de tanta dor que os adormecia. Os que lá estão agora são felizes, embora não tão felizes se estivessem numa casa de um bom humano. Mas já sabem o que é amor, o melhor de uma pessoa, mas também sabem o que é dor e o pior de quem deveria proteger os mais fracos e ensinar as futuras gerações a cuidar e olhar por quem precisa e dá a própria vida pedindo em troca apenas um mimo ou um biscoito.

Os animais enchem-me o coração de alegria, amor e conforto e os humanos fazem sentir-me doente. Existem humanos bons, sensíveis, que não ficam indiferentes ao sofrimento de um animal na rua. Humanos que dedicam o seu tempo e dinheiro a cuidar e a tratar os que sofreram nas mãos erradas.
Existem humanos que arriscam as suas vidas para salvar um animal abandonado no meio do trânsito, atirado ao rio ou enfiado dentro dum esgoto. Existem humanos bons e se não existissem não teria esperança na Humanidade; seria a minha morte.


Existem humanos maus; maus para os animais, maus para a sua própria raça. Irei carregar o peso da maldade humana para o resto da minha vida. Os humanos maus e indiferentes não deveriam existir. No entanto penso... se a maldade não existisse, a bondade seria reconhecida?

A realidade é que os animais são o meu paraíso e os humanos o meu inferno.
Eu sinto-me doente e o aconchego só vem de vez em quando.

21 fevereiro, 2014

Bobi

Olho para a cama e já não o vejo lá. Chega a noite e já não tenho o impulso de ir à rua. Na cozinha já não espero que me peça um bocadinho do que como. No meu quarto vejo-o nas fotos penduradas na parede; vejo e sigo caminho. Por vezes penso que já não sinto falta, que já estou bem com isso, mas é à noite que o vejo. À noite, nos meus sonhos, ele aparece e eu choro; choro por saber que já cá não está comigo. Procuro-o desalmadamente. Corro nos corredores, grito, empurro, procuro-o. Quando o encontro, está ele parado a olhar e eu agarro-o dizendo o seu nome e choro... choro... choro... abraço-o e choro... Acordo. Acordo e vivo a minha vida como se nada fosse, mas são nos momentos sozinha que me lembro e sinto a sua falta. Tudo me cai.
Foram quase 17 anos na minha vida todos os dias.
Uma rotina. Uma boa rotina. Ainda me lembro de cada bocadinho seu; do latir, do olhar, do barulho das patinhas no chão, toque do seu pêlo, cheiro. Lembro-me de cada momento da nossa rotina. Das idas à rua, à janela a apanhar sol e a sentir o vento na cara, na minha cama a dormir e a rosnar porque não queria ser incomodado. Os beijinhos na barriguinha, na carinha, as brincadeiras pela casa com a manta, a bola. Brincávamos às escondidas. Ele adorava correr e perseguir a cauda. Juntava todos os tapetes a um canto da casa. Queria colo quando estava frio, mas não dava beijinhos. Tirava-lhe fotos, centenas delas. Nunca foi apreciador, mas aguentava-se.

Chamava-se Bobi e era da minha casa. Foi amado a cada minuto, apesar de todo o dinheiro que fez gastar em arranjos à casa. Foi amado mesmo não sabendo dar a pata, beijinhos ou devolver a bola. Era um cão medricas com uma certa independência. Não era um cão amoroso, mas eu não o resistia.
Era um cão que vivia cá em casa e agora é um cão que permanece no meu coração e invade os meus sonhos.

17 janeiro, 2014

Vivo-te.

Amor, Meu amor, por onde andaste toda a minha vida?
Desde que te conheci que ganhei um novo rumo, um novo brilho,
paixão em mim nasceu e todos os dias cresce.
Ganhei uma nova vontade de viver a vida.
Quando dizes que me adoras, quero que saibas que te adoro mais.
Precisas de mim? Eu preciso mais.
Sei que me ouves quando não falo, sei que me sentes quando não estou.
Vês o meu interior, conheces a minha mente.
Sinto medo, frustração, receio, mas contigo sinto-me segura.
Contigo partilho a minha felicidade e recebo a tua em troca.
Um sorriso teu contagia-me, um olhar deixa-me perdida; perdida nos teus olhos, em ti.
E é em ti que me encontro a viver.
Adoro viver-te, estar ao teu lado.
Poderia fazer isto até à eternidade.
Sabíamos que nos queríamos, mas saberíamos que seria assim?
Este amor parece não acabar, mesmo tendo agora começado.
Vivo-te, penso-te, amo-te.

30 dezembro, 2012

Memórias.

Ele era apaixonante. Fazia de mim o que queria. Na cama, no chão, na cozinha.
Era um tipo de amor que não adormecia depois de fazer amor. Olhava-me como se me visse pela primeira vez. Parecia todos os dias descobrir algo em mim que o fazia olhar-me de coração quente e beijar-me lentamente. E essa forma, antes de me beijar, de os lábios se tocarem, e falarem a nossa linguagem, apaixonava-me.
Esse tipo de amor fazia-me acordar com um sorriso na cara enquanto o sol batia na nossa cama. Beijava-o dos pés aos lábios, enquanto dormia. Sabia-o de cor, e, na ausência, imaginá-lo arrepiava a minha pele e reconfortava o meu coração. O meu futuro iluminado, o meu último nome premeditado. Não sabia não sorrir.

Eu já tive esse amor. Aquele amor que faz esquecer todos os anteriores. O que deixa cicatriz no coração e a alma perdida por todos os lugares onde foram criadas memórias.
E a minha memória de ti é a maior que tenho. A que me deu vida e a que me faz escrever antes de adormecer.

29 dezembro, 2012

Última manhã...

"Amor" como me chamavas, quer a sorrir, quer chateado.
Acordei encaixada em ti com uma t-shirt tua vestida, os teus braços à minha volta e as tuas mãos presas com a força do meu corpo no colchão, "para não haver hipótese de te soltares de mim durante a noite" como sempre dizias e eu me ria.
Virei-me e olhando para ti a dormir, nem dei pelo tempo passar. Beijava-te toda a cara e, inconscientemente, agarravas-me puxando-me de encontro ao teu peito. Corpo quente e barba por fazer.
Beijei-te os lábios de olhos fechados e disse amar-te.

Lembrava-me constantemente dessa manhã.
O autocarro parou e senti o sangue todo à superfície da minha pele. Deixei de ouvir qualquer barulho à minha volta, deixei de respirar, ouvindo apenas o batimento do meu coração. Durante dois segundos, e como nos filmes pareceram dez, vi-te de mãos dadas a uma mulher, e sorrias.
Estavas feliz, e pude deixar de me sentir culpada por te ter deixado naquela manhã há oito anos atrás.

O meu filho tem o teu nome, e os teus olhos. Diz que quando for grande quer ser "engenheiro dos carros" e tomar conta de mim.
Refila quando como o gelado todo que havia e sabe os meus filmes preferidos.
É igual a ti e sinto-me feliz que o seja.

Não fui mulher para ti, mas consigo ser a melhor mãe para ele.

01 dezembro, 2012

Todos os dias com desejo...

Era como imaginá-la nua deitada na sua cama, enquanto permanecia sentado numa cadeira ao seu lado. Ela passava com os dedos na sua própria perna, enquanto subia passando pela virilha, pelo umbigo, chegando ao peito, apertando-o. As suas mãos passavam pela sua cara, agarrando os cabelos, gemendo. Ele observava-a, tentando controlar a vontade de possuí-la na pouca claridade que existia no seu quarto.

Ela levantou-se e saiu na sua paragem do eléctrico.
Talvez amanhã ela notasse a presença daquele homem que todos os dias a contemplava, desejava.