30 dezembro, 2012

Memórias.

Ele era apaixonante. Fazia de mim o que queria. Na cama, no chão, na cozinha.
Era um tipo de amor que não adormecia depois de fazer amor. Olhava-me como se me visse pela primeira vez. Parecia todos os dias descobrir algo em mim que o fazia olhar-me de coração quente e beijar-me lentamente. E essa forma, antes de me beijar, de os lábios se tocarem, e falarem a nossa linguagem, apaixonava-me.
Esse tipo de amor fazia-me acordar com um sorriso na cara enquanto o sol batia na nossa cama. Beijava-o dos pés aos lábios, enquanto dormia. Sabia-o de cor, e, na ausência, imaginá-lo arrepiava a minha pele e reconfortava o meu coração. O meu futuro iluminado, o meu último nome premeditado. Não sabia não sorrir.

Eu já tive esse amor. Aquele amor que faz esquecer todos os anteriores. O que deixa cicatriz no coração e a alma perdida por todos os lugares onde foram criadas memórias.
E a minha memória de ti é a maior que tenho. A que me deu vida e a que me faz escrever antes de adormecer.

29 dezembro, 2012

Última manhã...

"Amor" como me chamavas, quer a sorrir, quer chateado.
Acordei encaixada em ti com uma t-shirt tua vestida, os teus braços à minha volta e as tuas mãos presas com a força do meu corpo no colchão, "para não haver hipótese de te soltares de mim durante a noite" como sempre dizias e eu me ria.
Virei-me e olhando para ti a dormir, nem dei pelo tempo passar. Beijava-te toda a cara e, inconscientemente, agarravas-me puxando-me de encontro ao teu peito. Corpo quente e barba por fazer.
Beijei-te os lábios de olhos fechados e disse amar-te.

Lembrava-me constantemente dessa manhã.
O autocarro parou e senti o sangue todo à superfície da minha pele. Deixei de ouvir qualquer barulho à minha volta, deixei de respirar, ouvindo apenas o batimento do meu coração. Durante dois segundos, e como nos filmes pareceram dez, vi-te de mãos dadas a uma mulher, e sorrias.
Estavas feliz, e pude deixar de me sentir culpada por te ter deixado naquela manhã há oito anos atrás.

O meu filho tem o teu nome, e os teus olhos. Diz que quando for grande quer ser "engenheiro dos carros" e tomar conta de mim.
Refila quando como o gelado todo que havia e sabe os meus filmes preferidos.
É igual a ti e sinto-me feliz que o seja.

Não fui mulher para ti, mas consigo ser a melhor mãe para ele.

01 dezembro, 2012

Todos os dias com desejo...

Era como imaginá-la nua deitada na sua cama, enquanto permanecia sentado numa cadeira ao seu lado. Ela passava com os dedos na sua própria perna, enquanto subia passando pela virilha, pelo umbigo, chegando ao peito, apertando-o. As suas mãos passavam pela sua cara, agarrando os cabelos, gemendo. Ele observava-a, tentando controlar a vontade de possuí-la na pouca claridade que existia no seu quarto.

Ela levantou-se e saiu na sua paragem do eléctrico.
Talvez amanhã ela notasse a presença daquele homem que todos os dias a contemplava, desejava.

Amar mais.

Acorrentada à parede do nosso quarto... Sim, fazias de mim o que querias.
Pensei que era assim, assim que estávamos bem. Sentias-te no controlo quando eu estava condenada, a morrer sem esperança, sacrificada.
Acorrentada à minha cama, eu era nova e não tinha nada para gastar se não o meu tempo em ti.
Mas isso foi o que me fez amar-te, amar, amar-te ainda mais.






Texto adaptado de: Bon Iver - Love more

31 julho, 2012

um Adeus indesejado

Meias palavras, pontos feitos para reticências e vírgulas pausando frases incompletas.
Uma casa que tinha sido construída só com amor e sorrisos, planos futuros e desejo; uma casa porque era o local onde não nos sentíamos sozinhos, onde nos amávamos, onde éramos crianças com tanto ainda por dizer e fazer. Um adeus sem um beijo, sem um abraço, lágrimas, garganta seca e música nos ouvidos.






Mais uma cambalhota que a vida (me) deu...

31 março, 2012

Se eu pudesse...

Sonho-te tantas vezes, mais do que as que devia. E em todos esses sonhos procuro-te, quero-te (e respostas também!). Não me queres. O teu coração está preenchido sem mais espaço para mim. Em todos esses sonhos eu não te tenho, excepto no de ontem. Abracei-te demoradamente, fechei os meus olhos e senti o melhor que já senti... tu. Não te larguei. Perguntei-te por ela e deste-me a resposta que sempre quis. Mas não me esqueci nunca, e fizeste tu também questão de não me fazer esquecer que eu tenho um novo amor. Esse que me merece de corpo e alma. O meu coração e pensamentos sempre foram teus e de ti. A ilusão de que te esqueci, a agonia de saber que ainda aqui estás. O saber que é errado ainda gostar de ti.

Nunca quis voltar atrás, mudar o meu passado, mas se pudesse.. se.. nunca te teria conhecido. És o amor da minha vida e aquele que nunca mais irei ter; foste quem mais me fez feliz e quem mais me faz sofrer.. uma felicidade que durou tão pouco tempo e a dor que perdura e não sai.. não acalma.

Se eu pudesse... não existias na minha vida.

18 fevereiro, 2012

Cicatriz

Há mais de um ano que não te tenho; nem quero.
A minha maior dor: senti quando me deixaste e sinto ainda por te ver ao longe, por apareceres nos meus sonhos e eu vivê-los de uma forma tão intensa, mas tão triste...
Nunca me arrependi de nada que tenha feito na minha vida, nunca quis voltar atrás. Sou uma rapariga que vê o mundo tal como ele é por detrás de lentes cor-de-rosa.
Sou feliz e não sou uma sobrevivente, porque vivo cada dia, aproveito cada momento, bom ou mau, faz-me crescer.
Doeu tanto e, ainda assim, nunca quis apagar o que vivi, sofri. Hoje percebo que não deixo de ser realista por querer apagar o meu passado. Queria poder apagar-te; és a minha dor mais profunda, os meus sonhos contigo, mas sem ti.

Sabes lá tu e quem me dera ser como tu.